Palavras da coordenadora... em entrevista
O trabalho como eixo da história e as relações sociais baseadas em valores cristãos
A coordenadora da Pastoral do Mundo do Trabalho, Irmã Mirian, fala das experiências e ações da Pastoral para todos os trabalhadores
Por: Luciana Reis
“Benditos os homens e mulheres que se dedicam a empreender na sociedade para gerar crescimento e riqueza aos seus semelhantes”. A citação, presente no documento de Aparecida, reflete os objetivos do Empresário Cristão, em união com entidades, instituições e pessoas que, com o seu trabalho, ajudam a construir uma sociedade melhor, baseada em valores cristãos, como ética e comprometimento com o próximo. E como exemplo de empreendedora social, o Empresário Cristão entrevistou a coordenadora da Pastoral do Mundo do Trabalho na Arquidiocese de São Paulo, a Irmã Mirian Aparecida Marquezini Feitosa.
Desde muito jovem, Irmã Mirian esteve inserida na Igreja Católica, participando ativamente de encontros de casais, de jovens, movimentos sociais, pastorais, etc. Seu esposo foi pioneiro na montagem da escola diaconal na Arquidiocese de São Paulo, como explica a Irmã. “Diácono é como um padre casado, ele necessita ter mais de quinze anos de união no sacramento do matrimônio para poder ser diácono permanente, e a esposa faz o voto junto com o marido. O diácono tem por voto que, caso fique viúvo, ele só poderá continuar a caminhada na Igreja como padre. Todos fazem esse compromisso por escrito e a esposa assina junto. Eu fiz o meu compromisso pessoal, pois não era obrigatório, mas escolhi que eu também seria consagrada freira se eu ficasse viúva primeiro.”
Com o falecimento de seu marido, Mirian foi consagrada e fez seus votos de pobreza, castidade, obediência e oração em 2007, perante o Frei Luís Maria Alves Sartori, com quem já trabalhava há 30 anos na Pastoral do Mundo do Trabalho. “Frei Luís me convidou e falou ‘O que você vai fazer agora, casar de novo?’ Respondi que casaria apenas com Jesus. Desde então fiquei com dois maridos no céu”.
A caminhada na Pastoral
A Pastoral do Mundo do Trabalho abraça amplos setores da sociedade e suas relações, motivo primordial para a acolhida à Associação Brasileira do Empresário Cristão, entidade ecumênica composta em sua maioria por católicos, salientando que a Igreja Católica tem também a Pastoral Operária.
Para chegar a todos os trabalhadores, são realizadas missas, palestras e visitas da Pastoral às empresas, levando a imagem do Cristo Operário. O principal objetivo dos encontros entre trabalhadores e a Pastoral é estimular o diálogo, seguindo os valores cristãos. “Quando você entra numa empresa, normalmente o empresário que também é um trabalhador, está chateado pois, os funcionários estão brigando; a convivência está difícil e a produção não progride. Quando você leva Cristo Operário e faz palestras direcionadas para a Paz, mesmo que não se trate de religião, chega-se mais facilmente a uma proposta de companheirismo e convivência fraterna. Em vários casos se elege um líder dentro da empresa, com quem a maioria simpatize e que se torne uma ponte entre os funcionários e o patrão. Dessa forma é que tudo começa a fluir”, explica Irmã Mirian.
A relação entre trabalhadores, sejam eles empregados, empreendedores ou empresários, é representada pelo símbolo da Congregação das Irmãs Missionárias de Cristo Operário: a imagem de Jesus crucificado em uma engrenagem. A ideia presente é a de que os trabalhadores, sejam eles patrões ou empregados, fazem parte de um processo em que, no topo da pirâmide, estão unidos, o poder econômico juntamente com o poder político e sindical, aliados aos altos impostos e à má remuneração, tudo somado resulta em injustiças sociais. “Muitas vezes não é o patrão que está sendo injusto, mas ele também está pressionado porque paga mais impostos do que pode, por exemplo.”
Mas para quem está no poder, esse estímulo à luta de classes é uma grande vantagem, como explica Irmã Mirian. “É interessante para eles essa idéia, porque enquanto os trabalhadores, patrões e empregados, estão brigando aqui, os poderosos estão fazendo a festa lá em cima. Eles brigam aqui embaixo, ficam distraídos, ao invés de se unirem para entender que é lá em cima que está errado”.
Partilhar
Para diminuir as desigualdades e os problemas nas relações entre os trabalhadores – dificuldades que irão refletir diretamente nas relações sociais, na vida em comunidade e em família – é que a Pastoral do Mundo do Trabalho tem agido.
A importância de partilhar e estabelecer um diálogo, como Jesus nos ensinou, é demonstrada em uma das ações em que a Irmã Mirian esteve presente. “Nós recebemos uma doação grande do Instituto Dom Bosco, no Bom Retiro. Eram dois tambores com peixes, do tipo cavalinha, e que deviam ser distribuídos rapidamente. Anunciamos em um gramofone no carro em que estávamos no meio da Comunidade Santo Antonio do Canindé:- ‘Tragam as panelinhas porque trouxemos peixe hoje’. Começamos a trabalhar e distribuir os peixes igualmente na fila, mas eles mesmos diziam:- ‘Olha, pode pôr menos para mim, dá mais para ela porque ela tem mais filhos’. E então você fica pensando, eu estou aqui ensinando e ajudando ou estou aprendendo? Eles mesmos nos ensinam que a divisão cristã é outra”.
Esse é apenas um dos exemplos concretos em que podemos perceber a mensagem que deve ser transmitida para a sociedade e como a partir do Mundo do Trabalho é possível colocar em prática os ensinamentos de Jesus e outros que estão na Bíblia.
A importância do trabalho
Irmã Mirian atua como religiosa indo além das orações e clausura, no mundo do trabalho é uma verdadeira empreendedora social, realizando bazares beneficentes com os produtos artesanais produzidos em fazenda no sul de Minas Gerais, mantida pelos franciscanos leigos, que vendem por exemplo, o leite para cooperativas e, com o que sobra, são feitos queijos e outros produtos que gerarão renda aos empreendedores sociais nestes bazares beneficentes, ajudando igrejas e projetos que atendem os irmãos mais necessitados.
Para a Irmã, o trabalho é o principal modo de dignificar o homem e toda a sua caminhada está pautada sobre o trabalho, como demonstra a frase de João Paulo II: “O trabalho é o eixo da história.”
Futuros Passos
A parceria com novas entidades vem ajudando a divulgar o trabalho da Pastoral, fazendo-o chegar a outras regiões, expandindo os projetos sociais e aproximando os trabalhadores dentro dos preceitos cristãos, e levando as contribuições da Pastoral e os ensinamentos de Jesus a todos os trabalhadores, sem distinção, e com atuação em diferentes áreas. Neste ano de eleição, por exemplo, dentro da Pastoral do Mundo do Trabalho, em conjunto com a Pastoral Fé e Política, será realizado o seminário “Fé, Política e Cidadania.”
Irmã Mirian, formada em Design, com ampla experiência na gestão de recursos humanos e com dois anos de curso em Direito, busca ainda mais conhecimento, planejando a próxima faculdade: Serviço Social.
Mas é importante salientar que todos os projetos e objetivos que envolvem a Pastoral do Mundo do Trabalho são baseados na Ética Cristã, como bem define Irmã Mirian. “Existe algo que se chama ética, que todo mundo tem que ter. A ética cristã é preciosa, e o ser humano que tem ética cristã não precisa saber o significado dessa palavra, isso vem do berço. É disso que o empresário precisa, agir sempre com ética. Agora, a mensagem só para o empresário não adianta, o operário também precisa ser orientado pela ética, os dois são trabalhadores, a Ética Cristã no mundo do trabalho deve orientar os dois”
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